Meia Volta do Biribiri

A Cachoeira Pai Rocha no Córrego Palmital

O Parque Estadual do Biribiri é daqueles recantos especiais. Une beleza natural e história, modos que não pode passar em branco na vida dos Montanhistas. Em fevereiro passado programamos realizar a volta ao Parque, uma caminhada mais ampla e interessante. Mas devido às chuvas fortes ocorridas dias antes que danificaram algumas passagens acabamos por realizar apenas a Meia Volta; que consistiu na Trilha dos Escravos mais um prolongamento até a divisa Leste do Parque. Completamos o tempo com uma visita à cinematográfica Vila do Biribiri e arredores.

Relato Dia 1


Beirava 1h00 do dia 1 de fevereiro quando partimos de BH rumo a Diamantina. Pouco antes das 6h00 adentrávamos àquela cidade Patrimônio da Humanidade em busca de um café pra forrar o estômago. Desembarcamos na Praça do Senhor Bom Jesus, eixo da principal rua de acesso ao Centro. Ali tomamos um cafezinho numa pequena padaria que abrira as portas. Fazia uma linda manhã em Diamantina!

Igreja do Bom Jesus em Diamantina

Linda manhã em Diamantina

Em torno de 6h40 reembarcamos rumo ao início da nossa pernada. Naquele momento tivemos uma baixa, quando uma amiga apresentou dores e incômodo num tornozelo que havia fraturado tempos atrás. Seguimos juntos até a BR 367, logo após a Universidade Federal.

O início na altura da Duas Pontes na BR 367

O ponto do desembarque foi em frente a um portão azul de ferro à esquerda da rodovia que dá acesso a alguns sítios locais e à Fazenda Duas Pontes. O ponto está logo após o final da murada-cerca da Universidade Federal; pouco após cruzar a pequena ponte sobre o Córrego do Soberbo. No local há uma área de escape à direita da rodovia, que foi nosso desembarque.

Ajeitar de tralhas, despedidas do nosso resgate e da nossa amiga que iria curtir Diamantina e às 7h30 cruzamos a rodovia e varamos no portão de ferro azul. Ali ao lado do portão há uma placa "Propriedade Particular; entrada proibida, cão feroz". Mas me certifiquei com um entrante local e o acesso foi franqueado.

O iniciar para a Trilha dos Escravos

Passamos a caminhar por uma vicinal "dois sulcos" e logo já deparamos com uma placa indicando o Caminho dos Escravos e Cachoeira dos Cristais. Adiante desembocamos na Trilha dos Escravos que vem de Diamantina.

Na verdade poderíamos ter desembarcado na cidade de Diamantina e lá começado a caminhada pela Trilha dos Escravos. Apesar de toda a história envolta nesse caminho, o trecho até essa região de Duas Pontes guarda muitos aspectos urbanos; como a própria cidade, a proximidade da BR 367 com seu vai e vem de automóveis e a universidade federal, um conjunto de prédios que despontam absolutamente destoantes na paisagem. Então por isso optamos por um iniciar mais adiantado.

Curiosos e bonitões

Prosseguindo a pernada, em torno de 7h40 cruzamos outra porteira de ferro e somos observados por cavalos curiosos à nossa esquerda. A paisagem à Noroeste no rumo da Vila do Biribiri se apresentava linda naquela manhã de sol. Observamos à nossa direita algumas casas da Fazenda Duas Pontes. Seguimos em suave declive tendendo a Nordeste, nos dirigindo para o fundo de um pequeno vale. Na mesma direção sobressaem as encostas do Parque, trecho de subida que percorreríamos logo a seguir.

Estrada e Passa Um ou Quebra Corpo
À esquerda segue pra Vila
Trilha dos Escravos para a Direita

Aproximamos de uma capoeirinha e o caminho largo faz uma curva para a esquerda sentido Vila do Biribiri. Outra porteira de ferro azul bloqueava a passagem. Mas nosso sentido é à direita; como indicava outra placa. Cruzamos então um "passa um" à direita e seguimos pela trilha entre a capoeirinha. Logo à frente pouco antes das 8h00 desembocamos num pequeno poço no Córrego Palmital. À sua esquerda uma espécie de quiosque com telhado.

Quiosque e Palmital

Esse era um ponto importante pois era o primeiro contato com o riacho que nos faria companhia por quase todo o dia. Ali naquele ponto de passagem, ainda área particular, houve uma interferência com concreto no leito do córrego, aumentando a profundidade do poço. Na sequência do curso d'água o Palmital forma alguns pequenos poços no seu leito rochoso. É um bom lugar pra descanso.

Primeiro contato com o Palmital


Região das Jabuticabeiras

Após rápida parada naquele quiosque cruzamos o Palmital; uns pulando rochas, outros pelo escorrer d'água na mureta de concreto. Na margem direita seguimos em suave aclive por trilha velha, passando próximo a alguns pés de jabuticaba. Uma capoeirinha rala; uma cerca velha e chegamos a um bom ponto de água.

Erosão. Aqui é o ponto mais alto da pernada

Seguimos pela trilha ampla e bem cuidada em aclive, o maior daquele dia. Mas é uma subidinha tranquila e simples. Arredores formados por vegetação capoeira, com viço pelo período das águas. Adentrávamos em áreas do Parque. Por volta de 8h15 passávamos à direita de uma grande erosão, atingindo o ponto máximo da subida.

Placa indicativa do Poço verde

Seguimos pela trilha ampla entre a capoeira típica do Espinhaço. Muitas flores, mesmo com sinais de recente limpeza das margens. Em suave declive às 8h30 chegamos na bifurcação do Poço Verde. Deixamos nossas tralhas ali na bifurcação e nos deslocamos até o Poço.

Tomamos a trilha da esquerda que rasga a matinha em declive. Em dez minutos cruzávamos novamente o Palmital sobre rochas escorregadias e chegávamos ao Poço Verde. Esse braço de trilha que acabávamos de percorrer até o Poço Verde segue para a Vila do Biribiri via Cachoeira dos Cristais. Após interceptar aquela estradinha que deixamos lá atrás na região do primeiro contato com o Palmital. Ou seja, é o caminho que liga Mendanha a Biribiri.

O Poço Verde

Segundo contato do dia com o Córrego Palmital, o Poço Verde é um bonito lugar, amplo, boa profundidade, antecedido por uma pequena queda. Nos arredores viçosa vegetação, mas sem sombrear as águas em grande parte do dia. Apesar de ainda cedo, o calor já era grande e alguns amigos aproveitaram para se refrescar e curtir o bom volume de água.

Em torno de 9h20 iniciamos o retorno até as mochilas pela mesma trilha da ida. Em 15 minutos já prosseguíamos a caminhada pela ampla Trilha dos Escravos. O sol começava a incomodar pois brilhava forte, de verdade!

A Lapa

O espinhaço é cheio de cores

Uns 5 minutos e chegamos até uma pequena lapa com um fio d'água escorrendo na trilha. Arredores coloridos com muitas flores. Adiante, em suave declive já deparamos com as rochas da Trilha dos Escravos. Nota-se que o curso da trilha rasga uma área que recebe a água da encosta superior direita, deixando o caminho mais úmido. Talvez por isso o calçamento, que torna-se bem cansativo de ser percorrido.

O calçamento: é cansativo caminhar por aí

O panorama não muda: suave declivem vegetação arbustiva, muitos afloramentos. À nossa esquerda no fundo do vale próximo corre o Palmital. À Oeste um alongado morro com as mesmas características, emoldurado ao Norte pela Serra de Mendanha, ainda bem distante. Impossível não notar a grande interferência humana atual: uma linha de alta tensão segue rasgando essa encosta, tirando um pouco da naturalidade do trecho!

Graças a Deus

Após cruzar uns três pequenos pontos de água, que tudo indica secam no inverno, pouco depois das 10h00 chegamos no Mirante Graças a Deus. O lugar tem esse nome porque, fazendo o caminho inverso vindo de Mendanha até ali é uma subida mais acentuada e longa, bem longa. Então graças a Deus chegar até ali sem problemas com as tropas. Este era o pensamento de priscas eras! Para nós significava que doravante o declive se acentuaria...

Calçamento perfeito

Logo abaixo do Mirante há um ponto de água, agora mais volumoso. Surgem também trechos muito bem feitos e preservados do calçamento da Trilha dos Escravos. Admirável obra se pensada que foi feita a mais de dois séculos. Vai entrando na paisagem Norte um grande e bonito paredão que chama a atenção por uma cavidade na rocha, uma espécie de portada, um arco de uma catedral. Trata-se do Oratório de Santa Apolônia! Muito bonito!

Seguimos pelo calçamento e aquilo começa a doer os pés. Mas é muito bonito. Observamos alguns postes remanescentes da antiga linha de telégrafo que margeava a trilha. Cruzamos outros dois magros pontos de água e aproximamos de uma sombra com troncos de árvores formando bancos beira trilha.

O Oratório de Santa Apolônia na Serra ao fundo
Impressionante cavidade

Placa indicativa do Mirante

Chegávamos ao Mirante de Santa Apolônia. Foi ali, por volta de 10h40 que estatelamos para um bom descanso e lanche, apesar dos carrapatos! Lá embaixo o ruído das águas do Palmital se estatelando em rochas. Lindo lugar!

Palmital. Ao fundo Santa Apolônia

Próximo das 11h10 retomamos a pernada. Vontade num dava porque o sol realmente estava judiando. Cerca de dez minutos de descida e chegamos num ponto de água mais volumoso, o maior até então, que formava algumas pequenas cascatinhas beira trilha. Ali também era o acesso à Cachoeira do Pai Rocha, cujo ruído chegava até a trilha. Dava até preguiça descer a piramba para ir até lá, mas naquele solzão era o melhor a fazer...

Placa indicativa

Enquanto um casal amigo preferiu fazer seu refresco ali nas águas beira trilha, nós outros deixamos as mochilas e despencamos trilha abaixo rumo ao leito do Palmital. Em poucos minutos já estávamos no doce e refrescante leito do Palmital.

Pai Rocha

Logo na chegada o riacho já era convidativo, com poços pra lá de agradáveis. Tocamos pelas rochas leito acima até atingir a Cachoeira Pai Rocha. Com o bom volume de água do Palmital, a cachoeira estava muito bonita. Sua queda entrecortada e espalhada pelas rochas forma um conjunto muito bonito. Poço grande não há, mas uma espécie de ofurô se forma ao cair das águas, um oásis pra diversão.

Pai Rocha

Permanecemos cerca de 1h00 na Pai Rocha. Inclusive fomos privilegiados pelo horário, pois o sol iluminava o lugar com força! E ficaríamos mais, porém tínhamos uma jornada ainda graúda pela frente. Percorremos de volta os quase 400 metros de aclive até a Trilha dos Escravos. Ao chegar o calor era tanto que já dava vontade de retornar ao Palmital...

Cruzeiro

Em torno de 12h50 retomamos a pernada trilha abaixo. Mais adiante passamos defronte a um pequeno Cruzeiro e seguimos lentamente devido ao calor. Perto das 13h00 nos mantivemos na trilha, apesar de ser tentadora a possibilidade de entrar à esquerda e seguir pela trilha inferior que margeia e possibilita alguns acessos ao agradável e divertido Córrego Palmital. Lindo o paredão ao fundo...

Paredão

Ponte. Agora consertada

Sempre em declive, perto das 13h10 e na altura do km 17,5 cruzamos um riacho através de uma ponte. Há algumas pequenas quedas nas proximidades. A trilha que até então apresentou longo trecho em calçamento e em declive se nivelou. Pro nosso alívio findaram os pé de moleque! E saíamos dos limites do Parque do Biribiri!

Bambuzeiro

Prosseguimos, novamente em suave declive, cruzamos um mirrado rego d'água e em torno de 13h30 aproximamos de uma moita de bambu; com uma casa isolada à direita. É também o ponto aonde deságua aquela trilha secundária esquerda que deriva um pouco antes da ponte. Próximo à moita de bambu o trecho estava barrento devido às chuvas de dias atrás. Fizemos o contorno pela direita e a trilha se nivelou, avançando por trecho arbustivo. 

Adiante ignoramos uma saída à esquerda que vai em direção às margens do Palmital; e pouco a frente também outra que deriva à direita e deságua noutra parte de Mendanha. Seguimos reto, com o sol ardendo os miolos, a ponto de incomodar. Diante disso não teve jeito, ao se aproximar de uma sombra meia boca desabamos para descanso e um refresco.

Depois de uns 15 minutos, por volta de 14h00 retomamos a caminhada em suave aclive. Metros adiante despontamos para o Distrito de Mendanha. Aí foi só percorrer suave declive, cruzar umas áreas mais úmidas com manejo de trilha em madeira e adentrar ao casario local, finalizando a Trilha dos Escravos. Era pontualmente 14h20 e estávamos um bagaço devido ao calor. É sério!

Paramos no primeiro buteco que vimos à direita da trilha. O rapaz muito simpático abriu o estabelecimento e pudemos nos refrescar de modo variado. Também descansar porque estávamos judiados. Realmente naquele dia fazia um calor fora do comum. E como sombras no Espinhaço são raras, a situação foi bastante desconfortante para caminhar. Mas agora tudo estava bem!

Por volta de 15h30 juntamos nossas tralhas e nos pusemos em marcha para completar nossa Meia Volta. Iríamos para um ponto mais ao Norte de Mendanha, um lugar afastado nos limites do Biribiri para desfrutarmos de uma noite tranquila junto aos insetos! Se possível iríamos até o Córrego São João, onde há uns remansos agradáveis.

Indicativa em Mendanha

Tomamos a rua das cachoeiras e fomos passando pelo casario de Mendanha. Observamos muitas casas fechadas, sugerindo serem de veraneio ou temporadas. Logo as casa ficaram para trás! Em dez minutos já cruzávamos novamente o nosso já amigo Córrego Palmital. O local estava com bastante banhistas, tanto acima da estrada no Poço Palmital; quanto abaixo da estrada na Cachoeira de Santa Apolônia. Como apreciamos discrição resolvemos tocar liso.

Rodeados por capoeiras e formações arbustivas em vários estágios iniciamos suave aclive rumo Norte pela estradinha vicinal. Na primeira e segunda bifurcações - na verdade um triângulo, tomamos à esquerda em ambas. Mas a seguir tomamos à direita; pois a esquerda segue para uma moradia local.

Uns dez minutos mais de caminhada e seguimos reto na próxima saída à direita. O estado da vicinal foi piorando, com cada vez menos sinais de uso. Dado ao calorão a caminhada novamente começou também a se tornar cansativa. Já era certo que dificilmente chegaríamos ao São João; logo ficaríamos num corguinho cerca de 3 km antes.

Os pequis colhidos lá em Mendanha...
Prestes a alimentar uma família em BH
Foto Guilherme Enge

Passamos a percorrer suave aclive e ao estabilizar pouco após 16h00 fizemos uma parada para descanso e aglutinação. Nosso amigo Guilherme aproveitou para catar alguns pequis que davam sopa beira trilha. Posteriormente nos disse que estavam bastante apetitosos...

Uns dez minutos após retomamos a pernada. Pouco adiante ignoramos uma discreta trilha que corta a mata Leste-Oeste. Entramos em suave declive, com a vicinal em "dois sulcos" aparentando raro uso. Pouco depois de 16h30 aproximamos de um triângulo centrado com vegetação.

Então foram somente mais alguns passos para atingirmos um lajeado na margem direita de um pequeno "córrego que não sei o nome". Após 17 km sob sol escaldante era ali, junto a uma boa fonte de água nos limites do Parque do Biribiri que passaríamos a noite.

Foto do dia seguinte: Lugar bom

Água em bom volume: o necessário

Com aquele calorão armamos acampamento a tempo de um refresco no corguinho ao lado. A água estava deliciosa. Aproveitamos para lavar as camisas, que estendidas na rocha secavam com rapidez. Depois afazeres normais, comidas gostosas, conversas agradáveis, muitas risadas. Em certa hora até ouvi alguns trovões bem ao longe; mas nada chegou até nós. Mais tarde um sono dos deuses...

Relato Dia 2


Levantei cedinho e fazia uma bonita manhã. Aproveitei pra explorar os arredores com suas formações rochosas muito peculiares. Lindos paredões à Oeste nas áreas do Parque. Matei saudades duns giros por aquelas bandas. A velha trilha que adentra as terras do Biribiri está lá, agora bastante suja, com sinais de pouquíssimo uso. Fui ainda na área aonde antigamente havia umas construções, espécie dum rancho. Por lá nada mais de pé, apenas restos de tijolos e telhas.

Linda paisagem. Linda manhã

Bucolismo

Havia marimbondo próximo essas rochas

Ruínas

Caminho pro São João

Pontualmente às 8h00 deixamos o lugar e iniciamos retorno para Mendanha. Fazendo o mesmo caminho da ida, pouco antes das 9h00 chegávamos no ponto combinado para nosso resgate em Mendanha; na rua da chegada da Trilha dos Escravos, atrás do Cemitério. Fazia um calorão danado e o sol ardia logo cedo. Colocávamos ali um fim à nossa Meia Volta do Biribiri.

Retorno: formações rochosas incríveis

Pouco depois das 9h00 embarcamos rumo a Diamantina pois iríamos passar o dia disponível preguiçando na Vila do Biribiri. Tomamos a rua da margem esquerda do Jequitinhonha e desaguamos novamente na BR 367; já após a ponte de Mendanha. Em torno de 9h40 passávamos pelo trevo do Biribiri. Resolvemos dar um pulinho numa padaria na BR 367 quase esquina com Rua Bicame em Diamantina para comprar umas coisinhas.

Mendanha: Passagem sobre o Palmital

Palmital: Santa Apolônia abaixo

Às 10h00 retornamos ao trevo de acesso e tocamos para Biribiri. Chegamos à Portaria do Parque que fica junto à cidade, avisamos das nossas intenções e seguimos pela judiada estradinha de terra que leva até a Vila do Biribiri.

Beirando 11h00 chegamos à bifurcação de acesso à Cachoeira dos Cristais. Embarcados seguimos pelo apertado acesso. Até que chegou num ponto havia um grande buraco e um pouco de lama. Deu trabalho pra passar, mas prosseguimos até a velha ponte-estacionamento, aonde chegamos às 11h10.

Ponte em Biribiri: Interditada
Vista desde o desvio

Rapidinho tocamos para a Cachoeira dos Cristais. A velha ponte estava interditada, mas há um desvio no curso inferior feito pelo Parque que permite o acesso. Num piscar de olhos estávamos na Cachoeira dos Cristais. 

Cristais: turbidez elevada

Aquela manhã estava nublada, tempo um pouco carregado, mas pra variar fazia calor. E pra nossa surpresa, a Cachoeira dos Cristais estava com maior volume de água; e um pouco suja. Fora resultado da forte chuva que caiu na região de Diamantina na noite anterior. Sorte tivemos, porque em nosso acampamento não caiu uma gota d'água!

Não havia por lá aquele costumeiro maior número de visitantes, acho que desencorajados pela chuva da véspera. Conversamos com alguns visitantes e fizemos hora nos arredores. Nem todos se animaram a entrar na água. Infelizmente a turbidez estava elevada! Enquanto isso o sol brilhou forte e fez calor, nos obrigando a disputar uma mirrada sombra à beira do leito.

Passada a Portaria-Cancela esta é a vista da Vila do Biribiri

Antes de 13h00 resolvemos partir pra Vila do Biribiri. Retornamos até nosso resgate, nos ajeitamos e partimos para a Vila através da vicinal interna. Na portaria pagamos o acesso e mais alguns metros fizemos uma parada para uns cliques da Vila. Linda vista! Logo prosseguimos e chegamos ao estacionamento dentro da histórica Vila do Biribiri.

Clássica da Vila do Biribiri

A Vila do Biribiri tem origem na disposição do Bispado de Diamantina em buscar soluções de trabalho para a população local. Ali foi construída uma fábrica de tecelagem, aproveitando as condições geográficas que permitiam gerar energia. No auge, mais de 1000 pessoas labutavam no lugar. E toda uma rede de infraestrutura foi construída para atender aos trabalhadores. Com o fim da unidade fabril a Arquidiocese de Diamantina desfez do terreno para particulares.

Galpões. Lindo paredão ao fundo

Impossível não pensar como aquele lugar deve ter vivido intensamente uma dinâmica própria! Está lá para quem quer ver toda a estrutura organizada, com as construções ainda de pé. Destaque para a Capela recém restaurada e aquela praça gramada, formato retangular, rodeada pelas construções azul e branco.

Ruínas da velha ponte no acesso

Permanecemos ali nos arredores vivenciando tudo aquilo. Depois aproveitamos o tempo livre para uns comes, uns bebes e alguns para um almoço. Catamos umas goiabas na praça também... Em torno de 15h30 deixamos a Vila e iniciamos nosso retorno, pois tínhamos um bom chão até em casa.

Retornando na estradinha de terra do Biribiri fizemos uma paradinha na badalada Cachoeira da Sentinela. É uma cachoeira singela, à margem da estrada, portanto de fácil acesso. E naquela tarde estava bufando de gente! Num teve jeito nem de tirar um retratinho... Então fizemos como beija-flor, vazamos rápido!

Placa na entrada da Vila do Biribiri

Aliás alguns pontos à beira da estrada estavam todos com bastante visitantes; pois de uma manhã carrancuda migrou-se para uma bonita tarde na região! Pouco antes das 17h00 passávamos por Diamantina. Depois non stop até BH, aonde chegamos pouco após 21h30.

Nosotros
FartaMarta, quem retratô

Embora tivéssemos inicialmente outro e maior objetivo, realizar a Meia Voltado Biribiri nos pareceu acertado. Também percorrer a Trilha dos Escravos no seu trecho mais interessante tendo o Palmital com bom volume de água foi suficiente para fazer-nos esquecer doutro percurso. E coroar com a Vila do Biribiri, que é um clássico resultou num fim de semana bastante proveitoso. Ademais, com o intenso calor que fez na região naquele fim de semana, o ditado "há males que vem pra bem" nunca foi tão certeiro! Agradecido sempre aos velhos e novos amigos pela alegria da companhia. Até breve!

Serviço


O Parque Estadual do Biribiri está localizado no município de Diamantina, região centro Norte de Minas Gerais. Criado em 1998 e inserido dentro do bioma do Espinhaço, guarda aspectos naturais de relevância. Abriga várias espécies animais e vegetais, alguns em ameaça de extinção.

Seus atrativos turísticos principais são cachoeiras e trilhas. A Cachoeira dos Cristais localizada próxima à Vila do Biribiri junto à trilha que liga à Trilha dos Escravos talvez seja a de maior poço do Parque. É bastante visitada, pois possibilita acesso de automóveis. Já a Cachoeira Pai Rocha é aquela de maior queda e maiores possibilidades. Localizada no Ribeirão Palmital e junto à Trilha dos Escravos é um lugar especial e cheio de possibilidades.

Há outras cachoeiras, como a Sentinela, que é singela mas de grande beleza cênica; embora exaustivamente visitada devido à sua localização junto à estrada de acesso à Vila do Biribiri, Há outros complexos de águas pelo Parque e arredores, como o Poço Verde próximo à Trilha dos Escravos; e aqueles nas divisas Norte do Parque, como o Rio Pinheiro e o próprio Jequitinhonha. Já o Poço Palmital e a Cachoeira de Santa Apolônia estão fora dos limites do Parque junto ao Distrito de Mendanha.

Nas trilhas, a principal rota é a Trilha dos Escravos. Totaliza 20 km e liga a cidade de Diamantina ao Distrito de Mendanha. É uma rota histórica, pois apresenta trechos de calçamento em rochas do século XVIII ainda bem preservados. Grande parte dessa rota segue margeando o Ribeirão Palmital, que é onde se localiza a Cachoeira do Pai Rocha; uma das cachoeiras mais bonitas do Parque. De fato o Ribeirão Palmital oferece outras várias possibilidades em corredeiras e poços nos arredores do mesmo trajeto. 

Oficialmente a Trilha dos Escravos não passa pela Vila do Biribiri; mas é possível realizá-la começando ou finalizando na Vila. Ou também pode ser iniciada ou finalizada (no ponto escolhido por nós) na BR 367 altura da Fazenda Duas Pontes. Em ambas opções o trecho da trilha com muitos elementos urbanos em Diamantina e arredores - casario, rodovia e prédios da universidade federal - ficam de fora, o que consideramos boa escolha.

A Trilha dos Escravos pode ser realizada no sentido Diamantina x Mendanha; ou Mendanha x Diamantina. Em qualquer das hipóteses de realização é importante que a jornada seja efetivada em 1 dia, pois percorre áreas do Parque Estadual; onde não há pontos de acampamento, abrigos ou similares. Pela mesma razão o Parque deve ser informado sobre a realização.

Há também outras trilhas pelo Biribiri, como aquela que corta a Serra dos Cristais, serra que separa a Vila do Biribiri da cidade de Diamantina. Essa trilha tem ao menos duas variantes. Há também trilhas menores, como aquela que leva ao Cruzeiro, localizado no paredão rochoso em frente à Vila do Biribiri.

A Vila do Biribiri está inserida na Trilha do Algodão (leia Aqui e Aqui), rota alongada que liga Diamantina à Vila de Santa Bárbara, localizada no município de Augusto de Lima, borda Oeste do Espinhaço. Essa grande rota tem origem no caminho das tropas; e o nome vem da presença de tecelagens, tanto em Biribiri quanto em Santa Bárbara. Ambas unidades fabris guardam muitas semelhanças nos modos e modas.

Localidades


O Distrito de Mendanha é mais conhecido por estar às margens do Rio Jequitinhonha. Mas o Ribeirão Palmital também banha o Distrito, resultando no bonito Poço do Palmital e na Cachoeira de Santa Apolônia. É um lugar que guarda muito das modas e modos do interior de Minas Gerais.

Diamantina é simplesmente a joia do Jequitinhonha. Patrimônio do Humanidade, nota-se no seu casario o quanto de esplendor a região experimentou no auge da mineração. É uma das cidades mais tradicionais de Minas Gerais, apresentando boa infraestrutura receptiva.

Já a Vila de Biribiri é particular, atualmente controlada pela Estamparia SA; portanto fora dos limites do Parque Estadual. Guarda preservado um conjunto de construções do século XIX; que constituía de unidade fabril, Igreja, escola, casas de comércio e residências que foram construídas pelo bispado de Diamantina visando emprego na região. É um lugar de cinema, resultando num bonito contraste com o verde preservado nos arredores. É acessada através da mesma estrada vicinal que serve ao Parque Estadual, estando fora da rota da Trilha dos Escravos; mas inserida na Trilha do Algodão.

A Meia Volta


Além da Trilha dos Escravos, que pode ser iniciada em Diamantina, Duas Pontes ou na Vila do Biribiri, a Meia Volta consiste num prolongamento Norte de aproximadamente 7 km em direção ao Rio Pinheiro seguindo pela margem esquerda do Jequitinhonha. Inicialmente uma vicinal, à medida que se avança no rumo Norte perde essas características, percorrendo áreas mais isoladas; atingindo o Córrego São João.

Mesmo a baixa altitude - estamos próximos ao leito de um grande rio, o Jequitinhonha; é bonito observar as incríveis formações rochosas daquela região e a paisagem mais bruta do sertão mineiro. Um entendimento é que esse avanço é aconselhado somente na Volta do Biribiri (completa). Porém também pode se justificar visando a busca por uma área mais reservada para pernoite natural.

Distâncias


Belo Horizonte a Diamantina: aprox 295 km
Diamantina a Mendanha: aprox 35 km
Diamantina a Biribiri: aprox 12 km (estrada de terra)

Como chegar e voltar - de ônibus

Cidade referência: Belo Horizonte


Ida: Empresa Pássaro Verde de BH até Diamantina ou Mendanha
Volta: Empresa Pássaro Verde de Mendanha ou Diamantina à BH

► Há outras empresas de ônibus que passam por Mendanha, como a Gontijo
► Faça consultas à empresas de ônibus confirmando horários e frequências
► Não há ligação por ônibus entre Diamantina e a Vila do Biribiri. Ir à pé ou de táxi
► Para realizar a Trilha dos Escravos optando por iniciar em Duas Pontes é possível chegar até ali à pé ou de táxi. Mas estando à pé e havendo tempo disponível é mais racional iniciar a rota no km 0 na própria cidade de Diamantina; e percorrê-la de modo completo.

Como chegar e voltar - De carro


Cidade referência: Belo Horizonte

Ida: BR 040 até o Trevão → BR 135 até Curvelo → BR 259 até após Gouveia → BR 367 até Diamantina, Duas Pontes ou Mendanha
Volta: Mesmo trajeto da ida

► Atente-se que no caso da Travessia dos Escravos ou Meia Volta do Biribiri início e final se dão em locais distintos e distantes. Necessário programar resgate.
► Automóveis chegam até a Vila do Biribiri, Mendanha ou às proximidades de Duas Pontes

Considerações finais


► Unidade de Conservação - Parque Estadual do Biribiri. O Parque não oferece sistema de reservas, cobrança de ingresso, pernoite ou cobrança de uso de trilhas; pois a infraestrutura local é básica, focada na sinalização. Quando visitamos unidades que se encontram nessas condições é recomendável que mantenhamos contato com a Unidade e avisemos das nossas intenções. É importante que a Unidade tenha ciência de quem está caminhando pelas terras do Parque, pois isto poderá ser orientado; além de gerar estatísticas, estudos e melhorias.
Contatos do Parque Estadual do Biribiri: parque.biribiri@meioambiente.mg.gov.br
Telefone: (38) 3532-6698

► Áreas particulares: Não há cobrança de ingresso, acesso, pernoite ou uso de trilhas pelo trajeto. Manter discrição em todas as ações; com postura responsável, ordeira e respeitosa. Sempre que possível buscar autorizações antecipadas para passagens. Na impossibilidade, aproximando de sítios, fazendas e similares informar sempre sobre suas intenções. Manter fechadas todas as porteiras e tronqueiras. Jamais romper cercas. Nunca provocar ou assustar animais e criações. Não abrir áreas para acampamento. Jamais realizar fogueiras. Manter consigo todo e qualquer lixo gerado. 

► Trilhas e Trajeto - Trilha dos Escravos e Meia Volta do Biribiri: Trajeto misto, contendo trechos com trilhas amplas e batidas; trecho com calçamento em rocha e trechos com vicinais. Há sinalização pela Trilha dos Escravos. A partir de Mendanha não há sinalização, porém o trecho consiste numa vicinal, apesar do pouco uso. Há pontos com trilhas se cruzando e muitas bifurcações, requerendo atenção na navegação. Há aclives e declives, alguns íngremes e alongados. Há pequenos regos e córregos a cruzar; podendo se tornar volumosos sob chuva.

► Trilhas e Trajeto - Vila do Biribiri e Arredores: Tanto o acesso à Vila a partir de Diamantina, quanto acessos locais aos atrativos naturais consistem em vicinais. É possível acessar por automóveis os principais atrativos; exceto a ida ao Cruzeiro de Biribiri.

► Experiência em Trekking: Para a Trilha dos Escravos e a continuidade que perfaz a Meia Volta é necessária média experiência em Trekking. Já para visitar atrativos nos arredores da Vila de Biribiri não é necessária experiência, pois os trajetos são curtos.

► Logística de Acesso 1: Variável conforme a escolha. É possível chegar de automóvel em Diamantina (!); em Duas Pontes, Vila de Biribiri ou Mendanha. Para aqueles que utilizam ônibus a única preocupação seria como chegar à Vila de Biribiri, caso optar por visitá-la. Para acessá-la somente à pé ou de táxi. Os acessos são mistos, com asfalto e chão batido. A Trilha dos Escravos é possível a realização ao inverso.

► Camping: Para a Meia Volta somente no modo natural. Na Vila do Biribiri não há camping. Hospedagem somente em casas alugadas na vila.

► Água: Há pontos de água pela rota, porém em época de seca muitos deles desaparecem. Entre Mendanha e o Córrego São João as fontes são escassas. Iniciar sempre abastecido; ou o faça sempre que encontrar uma fonte. Use purificador!

► Exposição ao Sol: Intensa. Use protetor solar.

► Época de realização: O melhor período para realização é de abril a setembro; que é a época mais seca na região. No verão também é possível, mas esteja atento: Sob chuvas simples regos d'água ou mesmo naturais valas de drenagem podem se transformar em ribeirões volumosos pelo Espinhaço.

► Segurança - Escape: Na Trilha dos Escravos até a região do Mirante Graças a Deus retorne para a região de Duas Pontes. A partir do Mirante desça para Mendanha. Na Meia Volta há opção de escape no Distrito de Mendanha. Não há estrutura de busca e resgate na região. Não há sinal de telefonia celular constante pela rota; apenas em alguns pontos específicos, como próximo À Diamantina e Mendanha. Não há obviamente terminais telefônicos; exceto nas localidades.

►Segurança - Vestuário: Ao praticar Trekking prefira utilizar calças compridas e camisetas com mangas longas. Isto oferece maior proteção frente à vegetação e eventuais insetos; além de minorar a ação do sol.

► Atenção: Ambientes naturais abrigam insetos e animais selvagens ou peçonhentos. Isto é natural; é normal. Portanto, seja ao caminhar ou ao assentar esteja sempre atento. Ao manusear vestuário e equipamentos verifique com atenção se não há presença desses animais ou insetos. Também esteja atento quanto a presença de animais selvagens de grande porte; evitando assustá-los.

► Cash: em pequenas localidades aceita-se apenas dinheiro. Há bar e restaurante em Biribiri, Mendanha e obviamente Diamantina.

► Carta Topográfica: Diamantina


► Pratique a atividade aplicando os Princípios de Mínimo Impacto

Bons ventos!

Postar um comentário

Gostou? Deixe seu comentário, pergunta ou sugestão (0)

Postagem Anterior Próxima Postagem