Milho Verde a Capivari Via Pico do Raio

Serra da Bicha e Pico do Itambé vistos
desde a descida Note do Pico do Raio

Quem nos acompanha a algum tempo já deve ter percebido que a cada ano escolhemos alguma região específica para diversas visitas. Isto não é por acaso! Temos um propósito; que é permitir a quem esteja conosco a capacidade de formar conhecimento ampliado de dado lugar; e que ao final do ciclo tenha condições de circulação por essa mesma região de modo independente.

Nesse 2019 escolhemos a região do Serro-Diamantina e arredores para atenção especial. Localizada no Centro-Norte de Minas.

Já havíamos estado pela região em outras ocasiões, quando por exemplo realizamos a rota Capivari x São Gonçalo Via Cachoeiras; Felício x Rio Preto; São João x Curimataí; dentre outras. Dessa vez fomos percorrer a rota Milho Verde x Capivari Via Pico do Raio; que a despeito da curta distância trata-se de um percurso significativo naquela região.

Relato Dia 1


Na madrugada do dia 6 de abril deixamos BH rumo Milho Verde, município do Serro. Quando aproximávamos da região em torno de 4 da manhã caiu um pé d'água caprichado; bem ao estilo daqueles causadores de enchentes. Ao percorrermos a estrada para Milho Verde observamos as drenagens das encostas todas cheias. Já bem próximo ao Distrito observamos a Cachoeira Carijó à nossa direita bufando água!

Ao desembarcarmos no Distrito próximo das 7h00 não chovia mais, porém o tempo estava carregado e fazia até um friozinho. Estávamos de fronte a Pousada do Morais; e dali seguimos até uma pequena padaria na Esquina da Paz em busca de um café. Enquanto isso contatei os três amigos de Diamantina que se juntariam conosco. Como eles já estavam em Milho Verde logo chegaram até nós.

Capela do Rosário: Cartão postal de Milho Verde
Depois de um cafezinho alguns de nós fomos até a Igreja do Rosário, cartão postal de Milho Verde. Lugar pitoresco, com a capelinha em destaque na colina.

Além de admirar a paisagem histórica do lugar presenciamos outro quadro típico do interior de Minas: um grupo numeroso de galinhas descansavam sob os túmulos no cemitério ao lado. Realmente algo curioso! Também visualizei um simpático gatinho numa casa próxima; que ficou me observando a meia cara por detrás do muro...

Após o rápido giro pelo histórico lugar retornamos até a esquina da Paz. Nos aglutinamos próximo a uma árvore de pau doce em frente à pequena padaria e nos dirigimos ao nosso transporte.

Reembarcamos beirando 8h00 e seguimos por um curto trecho pela rua Direita sentido saída de São Gonçalo. Desembarcamos em definitivo em frente a um beco Sem Nome à nossa direita; cerca de um quarteirão antes do Camping do Nozinho.

Após a passagem de um gado tocado por um senhor e um rapaz ajeitamos as tralhas e pouco antes das 9h00 iniciamos nossa pernadinha; entrando à direita pelo Beco. O tempo indicava aberturas, porém ainda predominavam nuvens carregadas.

Os sinais da chuva da madrugada estavam por todo lado.  Contornamos uma pequena pousada e seguimos à esquerda, alcançando logo à frente o Beco do Lajeado. À nossa esquerda os fundos do casario; à nossa direita uma capoeira.

Placa no cruzamento de trilhas
Pouco à frente ao final do que poderíamos afirmar ser uma rua passamos por uma placa e cruzamos uma passagem. O casario vai ficando para trás quando às 9h10 chegamos até uma grande placa de identificação; um cruzamento de trilhas na entrada do campo já fora da capoeirinha.

Percorríamos o caminho normal para a Cachoeira do Lajeado. Tomamos à direita e a trilha em suave declive foi nos levando rumo ao Córrego do Lajeado.

Em poucos minutos de caminhada ameaçou cair uma chuvinha, mas pra nossa felicidade logo recuou. Já bem próximos do Córrego do Lajeado deixamos nossas mochilas. Sempre pela margem direita do córrego, seguimos pela trilha batida rumo à Cachoeira, aonde chegamos em torno de 9h30.

Esse trecho percorrido até aqui é uma rota batida e sem nenhuma dificuldade; caminho comum a qualquer visitante de Milho Verde; afinal a Cachoeira do Lajeado é o ponto natural mais visitado daquela região.

Cachoeira do Lajeado após forte chuva - Primeira queda
Esqueça aquela imagem de pouca água, corredeiras magrinhas e poços preguiçosos. A Cachoeira do Lajeado estava agitada naquela manhã! Um mundaréu de água descia pelas rochas da primeira queda, escondendo em grande parte aqueles detalhes curiosos das rochas nos arredores.

Nunca havia visto a Lajeado com tanta água! Achei incrível, uma vez que já a vi completamente seca; além disso o pé d'água havia ocorrido há pelo menos umas 4 horas!

Cachoeira do Lajeado após chuva: Segunda queda
Deixamos a primeira queda e sempre pela margem direita do córrego seguimos pela discreta trilha em busca da segunda queda. Descemos um lance rochoso e rapidamente chegamos até o lugar.

O poção bufava água. Aquele ofurô antes da queda ora nem aparecia... Estava incrível, com a queda espalhando respingos na aproximação.

Pra quem já o viu seco,
o Córrego Lajeado estava nervosinho naquela manhã...
Permanecemos apreciando o lugar por algum tempo; porém àquela hora e com tempo fechado ninguém se aventurou a adentrar nas águas da Lajeado. Aliás, em todo o trecho desde a bifurcação do início deparamos somente com uma pessoa, que certamente foi até a Lajeado para apreciar o bom volume de água da Cachoeira.

Nada mais a fazer por ali, já que as águas não permitiam aproximação leito abaixo, tratamos de nos despedir da Lajeado. Pelo mesmo caminho da ida retornamos até nossas mochilas. Não sem antes um dos amigos afirmar que havíamos nos perdido e passado pelas benditas...

Passada a visita a Lajeado, de fato somente agora que começaria nossa pernadinha mais gostosa! Pouco depois das 10h00 retomamos a caminhada, subindo pela margem direita  do Córrego do Lajeado.

Ora por trilha velha, ora por areial, ora por campos seguimos desviando dos charcos frutos da chuva da madrugada. Por volta de 10h30 cruzamos a trilha vinda o Oeste e que segue rumo Leste pelo interior do Monumento Natural Serra do Raio e Lajeado.

Cruzando o campo na Várzea do Lajeado
Nosso destino era o Norte. Por isso fomos nos afastando da margem do Córrego do Lajeado, cortando o amplo e plano campo aberto da Várzea do Lajeado sem trilha definida.

Buscávamos interceptar outra trilha que vem direto do Vilarejo e que seguiríamos adiante. O campo estava completamente encharcado e à essa altura as botas já estavam bem umedecidas. Uns 15 minutos de pernada pela Várzea e interceptamos a trilha do Vilarejo.

Tomamos então à direita e seguimos em ritmo tranquilo pela trilha plana no rumo Nordeste. As linhas de drenagem e as pequenas nascentes afluentes do Lajeado que tivemos que cruzar nos obrigaram a molhar as botas.

Mas àquela altura o sol ameaçava dar as caras, logo não seria um grande problema. Pouco antes das 11h15 cruzamos uma boa fonte de água, na qual recomendei abastecer, pois devido às chuvas não saberíamos como estariam as fontes adiante.

A velha placa com sinais de queimada
Enquanto os amigos abasteciam aproveitei para ir um pouco à frente me aproximando do casebre que há naquele trecho; identificado por alguns pés de eucaliptos.

Constatado que a vegetação estava mansa avisei que viessem, pois precisávamos fazer uma paradinha para descanso e lanche antes de iniciar a subida para a Serra do Raio. Assim, cruzamos uma velha placa e chegamos até o casebre às 11h30.

Deu dó presenciar o estado da Casinha,
que segundo a placa seria uma Unidade de Apoio do IEF
A construção no vale junto à encosta Norte encontra-se abandonado, bem diferente de quando estive por ali em outra ocasião. Segundo uma placa nos arredores, ali seria um ponto de apoio do IEF. Agora é o gado quem desfruta dos seus cômodos!

Porém, os arredores da casinha ainda guardam os sinais do que um dia deve ter sido uma boa e bem cuidada moradia: muitas frutíferas ainda resistem ao avanço do mato. Fiquei de olho num pé de amora trepadeira, frutinha comum que lembra a infância. Infelizmente pro meu desaponto ainda estavam verdes...

O tempo foi se abrindo e o calorão chegando. Por volta de meio dia deixamos o casebre e retomamos à pernada percorrendo uma discreta trilha que parte do casebre em meio aos arbustos.

Logo à frente interceptamos a trilha velha do contorno, quando tomamos à direita. Cruzamos um bom ponto de água em meio à capoeira e logo à frente despontamos em campo estreito, bem junto à encosta Norte.

Subindo a encosta: Firma o talo povo!
Lá naquelas grandes árvores à direita na foto se localiza a velha casinha
Em aclive a trilha segue acompanhando um cano de captação de água. Ignoramos uma discreta saída à direita que leva até uma outra casa no interior.

Rapidamente vamos subindo. A trilha torna-se bastante íngreme e confusa em alguns pontos; porém nada de mais para quem já está acostumado a caminhadas e orientação. Há degraus em alguns pontos, bem como lindas e curiosas formações rochosas.

À medida que subimos a porção Sul vai despontando, uma incrível paisagem de afloramentos rochosos. Milho Verde já aparece bem distante. Fizemos então uma paradinha para aglutinação e descanso.

Vista Sul desde a encosta Norte
Pouco depois de 12h30 retomamos e cruzamos um bom ponto de água junto a uma matinha ciliar. Parece que é por ali a origem da captação de água que vínhamos acompanhando desde o vale.

Após cruzar o rego d'água, subimos um degrau bastante liso e saímos em local plano com linda vista. Caminhamos por alguns metros e chegamos a outra fonte de água, junto a uma capoeirinha mais encorpada. Em aclive, rapidamente cruzamos o trecho.

Bicha e Itambé
Em torno de 13h15 saímos em campo aberto, com trilha já estabilizada. Com o tempo já aberto, o visual é incrível; destacando os inconfundíveis Pico do Itambé e Serra da Bicha à Nordeste! Este é um ponto importante, pois ali tínhamos que mudar nossa direção.

Para o Sudeste parte discreta trilha que em declive interceptará a estradinha de Capivari pras bandas do Poço Encantado. À Nordeste parte outra, que é o caminho rumo Norte para quem não pretende passar pelo Pico do Raio. Como o Pico do Raio seria nosso objetivo principal, tomamos o Rumo Noroeste através de trilha batida.

Cruzamos uma velha trilha de garimpo leste-oeste quando tínhamos à nossa direita belas formações rochosas. Logo à frente passamos rente à antigos pontos de garimpagem; com placa de Proibido Garimpo.

Uma discreta placa-seta indica o caminho rumo ao Pico do Raio, que à essa altura parece desafiador. Alguns amigos perguntaram: É pra lá que vamos? Sim, claro! Ocorre que à medida que se aproxima do Pico as coisas não são complicadas como se parecem ao longe...

Rumo Norte: Pico do Raio visto desde antiga zona de garimpo.
Veja a próxima imagem
Tomamos agora o rumo Norte por discreta trilha em suave declive, ignorando uma antiga saída à Noroeste que leva para São Gonçalo do Rio das Pedras sem passar pelo Pico do Raio.

O calorão abafado e a ausência de sombras são um problema, mas o visual compensa. Cruzamos algumas fontes de água de drenagem e aproximamos da encosta Sul do Pico do Raio pouco depois das 13h30. Fizemos nova parada para descanso antes da subida final.

Rumo Sul: vista desde o Pico do Raio.
Antiga zona de garimpo lá ao fundo
Beirava às 14h00 quando retomamos a pernada agora percorrendo a velha e íngreme trilha que sobe a encosta do Pico do Raio. Naturalmente a trilha vai contornando o Pico pelo Oeste. Após se estabiliza entre afloramentos e muitas rochas.

O lado Norte do Pico do Raio e as terras de além começam a se despontar. É nesse ponto que parte o ataque de minutos ao topo do Pico do Raio. Por ali chegamos em torno de 14h15 e fizemos uma parada para aglutinação antes do pequeno ataque.

De modo leve, pouco antes de 14h30 iniciamos o ataque ao Pico do Raio. Galgando rochas e desviando da vegetação arbustiva, em menos de 10 minutos já estávamos no topo.

O topo do Pico do Raio um amontoado de grandes rochas, totalmente irregular e desabrigado. Apesar da baixa altitude em torno de 1.410m, o visual em 360 graus desde o cume é mesmo espetacular. Dali é possível identificar grande parte do nosso trajeto; além do local do nosso pernoite lá embaixo, à Nordeste.

Pico do Itambé e Arrependido à Nordeste-Leste
Também à Nordeste observamos o Pico do Itambé e a Serra da Bicha. Para o Leste a Serra do Arrependido, separada do Raio por uma vastidão de terras planas. Para o Sul a região interior do Monumento da Serra do Raio e Lajeado, tendo Milho Verde bem distante.

Para Oeste a região de São Gonçalo do Rio das Pedras e demais Serras em direção à Diamantina. Também do cume é possível identificar grande parte do trajeto que fizemos no Ano Novo passado, em especial o trecho da Trilha do Raio, localizada no eixo Norte a partir da margem esquerda do Capivari.

Lado Norte do Pico do Raio
Permanecemos por quase 1h00 no topo do Pico do Raio. A descida foi igualmente rápida, feita pelo discreto pisoteio de acesso.

De volta às mochilas foi o tempo para ajeitarmos as cargueiras e despencarmos trilha abaixo no rumo Nordeste. Fazia uma linda tarde, ocasião propícia para lindas imagens... Com cada qual no seu ritmo vencemos a forte descida e chegamos ao platô norte e interior da Serra do Raio.

Pico do Raio visto do platô interior ao Norte
Nesse ponto costuma ocorrer uma confusão entre os menos avisados. Isto porque a trilha batida segue para o Norte/Noroeste.

Porém, logo adiante essa trilha se confunde com a drenagem do platô, resultando em uma caminhada possível, porém bastante chata, que desembocará lá embaixo na trilha para São Gonçalo. Então, o adequado nesse trecho é seguir no rumo Nordeste, pois logo à frente reencontrará a trilha que desce a encosta de forma suave.

Então, caminhando pelo campo seguimos à Nordeste, quando alcançamos a trilha que desce rumo àquela que liga Capivari a São Gonçalo. Cruzamos uma cerca velha e a trilha tornou-se mais batida.

Pouco abaixo e já no interior de uma capoeirinha, há um desemboque vindo da esquerda. Metros adiante a trilha segue em declive e se aproxima de uma cerca. Porém, para a direita segue a drenagem, bem mais evidente que a trilha. Descendo rapidamente, por um instante tomamos a drenagem, mas logo nos recompomos e retornamos à trilha correta.

Mais alguns metros em declive pela capoeirinha chegamos até uma bifurcação, quando tomamos à direita; pois para a esquerda é a saída atalho para São Gonçalo do Rio das Pedras. Avistamos já bem próxima a Casa do Seu Zé, nosso destino.

Seguimos então em declive suave paralelo à capoeirinha à nossa direita; e área arbustiva esparsa à nossa esquerda. Hora da fome, conversávamos sobre restaurantes quando desembocamos na Trilha Capivari-São Gonçalo. Cruzamos uma pinguelinha e chegamos até a casa do Seu Zé pouco depois das 16h00.

Imagem do dia posterior:
Ribeirão Capivari, instalações e Pico do Raio ao fundo
Depois da simpática recepção do Seu Zé e Dona Maria e obtida a autorização para nosso pernoite tocamos para a área próxima à Quedinha do Capivari.

Por ali nos ajeitamos, apesar da presença de muitas formigas. Poderíamos cruzar o ribeirão e nos instalar na margem direita; mas o tempo não estava 100% firme e isto poderia ser um problema para o dia seguinte.

Poderíamos também escolher outra área, mas distanciaríamos muito da fonte de água! Então permanecemos por ali mesmo.

Aliás, as formigas foram causa de muitas reclamações; mas no meio natural é assim mesmo: há insetos e animais os mais diversos; e isto não nos pode assustar; ao contrário, nos ensina como lidar nessas situações.

Restante da tarde e noite dedicados aos afazeres normais e a um bom descanso! Alguns amigos filaram um banho na Casa da Dona Maria, mas a maioria fez isto no Capivari; cuja água estava muito agradável. Dada à chuva da madrugada anterior, o Capivari estava com maior volume de água, resultando em pequenas quedas adicionais. Estas quedas foram providenciais para um bom banho. No mais, foi uma noite tranquila, apesar da ameaça de chuva fina bem ao final do nosso jantar...

Relato Dia 2


Ribeirão Capivari
Aquele domingo amanheceu nublado. Como a jornada do dia seria curta, a intenção era permanecer por ali até lá pelo meio dia, curtindo a quedinha e os remansos do Capivari. E assim foi feito, tudo sem pressa! Alguns amigos foram logo cedo na casa do Seu Zé e por lá tomaram um cafezinho e bateram um dedo de prosa. Eu permaneci na área de acampamento privilegiando a discrição...

Quedinha no Capivari mansinha após a chuva do sábado
Mais tarde, com parcial abertura do tempo, cada um ao seu gosto foi curtir o Ribeirão Capivari. Naquela altura do ribeirão, além da quedinha principal há alguns remansos, todos abertos e bem agradáveis.

Enquanto estávamos no riacho alguns cachorros estiveram pelo acampamento. Além de roubar um pouco da farofa de carne do nosso amigo de Diamantina; um deles furou a barraca que a Teresinha  estreava na pernada. Se não me falha a memória furtou umas linguiças... Enfim, estripulias normais dos adoráveis cães...

Pico do Raio ficando para trás...
Depois de tanto ócio, voltamos às barracas e desarmamos acampamento. Por volta de meio dia despedimos do Seu Zé e Dona Maria e partimos rumo ao arraial de Capivari. Após cruzar o gramado nos arredores da casa tomamos a esquerda na primeira bifurcação. Trajeto praticamente plano, seguimos pela margem esquerda do Capivari, sempre pela trilha mais próxima ao leito no sentido Leste. Naquela hora do dia fazia bastante calor!

Com cada um imprimindo o seu ritmo, adiante cruzamos uma mirrada fonte de água. Após curto aclive tomamos novamente a esquerda na bifurcação, cruzando uma porteira.

Trecho plano, sem nenhuma dificuldade permanecemos na trilha sentido Leste, ignorando adiante outra saída à direita morro acima. Na sequência, beirava 13h00 quando ignoramos mais uma saída na mesma direção. Chegamos então até um bom ponto de água, cujo rego forma um pequeno poço abaixo da trilha.

Capivari à vista: Capelinha de São Geraldo
Após cruzar o rego d'água o tipo de terreno modifica, tornando-se menos arenoso e com coloração avermelhada. Passamos a percorrer a encosta em suave aclive. Ao estabilizarmos já avistamos Capivari bem à nossa frente e já bem próximo!

Sem alterações, por trilha batida e navegando no visual cruzamos duas estradinhas que vem do sul e levam até o Ribeirão Capivari e para o Norte. Após a segunda estradinha, em suave aclive caminhamos um curto trecho e atingimos o gramado da Capelinha de São Geraldo de Capivari às 13h30, colocando fim à nossa pernada.

Ajeitamos nossas mochilas próxima à Capelinha à espera do nosso resgate; exceto os amigos de Diamantina, cujo carro resgate já estava por lá. Nós havíamos antecipado nossa chegada; logo teríamos tempo para navegar pelos arredores. A maioria dos amigos desceram a rua principal, cruzaram a ponte e foram até o barzinho do arraial. Eu permaneci ali pela Capela, me ajeitando com calma e à espera do nosso resgate; que só chegou às 14h30, o horário previamente marcado.

Eita, olha a pose!!!
Com o resgate seguimos até o bar, embarcamos os amigos e despedimos daqueles de Diamantina. Paramos novamente na Capelinha, ajeitamos as cargueiras e iniciamos nosso retorno. Enquanto sacolejávamos na estradinha de terra de Capivari conseguimos falar na Pousada do Morais em Milho Verde e ajeitamos um almoço tardio.

Ao desembocar no asfalto às 15h30 tocamos à direita para Milho Verde, onde chegamos às 15h45. Por lá almoçamos com calma uma comida deliciosa! De panças cheias, somente às 17h00 deixamos o lugar. Fizemos tranquila viagem de retorno até BH, onde desembarcamos por volta de 22h00.

Esta é uma pernada interessante não só porque percorre áreas do Monumento Natural Serra do Raio e Lajeado; mas sobretudo porque permite ao caminhante se localizar, identificar e se orientar em uma vasta porção da região do Serro. Ao agrupá-la com outras rotas na região possibilitará ao caminhante desfrutar de pernadas significativas, algumas delas clássicas do Montanhismo Mineiro. Por isso, ficamos gratos aos amigos pela gentileza da presença e parceria na pernada. Nos vemos nas trilhas; inté!

Veja mais fotos legais dessa pernadinha no ótica do José Mendes

Serviço


Localizada no município do Serro entre os Distrito de Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras; e do arraial de Capivari, região Centro Norte de Minas Gerais; a área principal dessa rota está dentro do Monumento Natural Estadual Várzea do Lajeado e Serra do Raio. Criada em 2011, visa proteger um quadro natural que guarda grande valor ambiental e paisagístico. 

Monumento Natural Estadual Várzea do Lajeado e Serra do Raio é uma das unidades mais visitadas de todo o Estado de Minas Gerais. Infelizmente muitos desses visitantes desconhecem a existência da área de proteção. Monumento Natural é uma categoria de proteção que permite a unidade privada em concordância com a devida proteção.

Além de serras locais, os atrativos principais são as cachoeiras do Lajeado, Carijó, Canelau, Ema e Arco Íris; além do Pico do Raio, ponto culminante da região com aproximadamente 1.430m de altitude. É uma área típica do Espinhaço, predominando os campos rupestres, que são áreas extremamente frágeis, porém de grande variedade ambiental. 

Já a Travessia Via Pico do Raio apresenta curta distância; porém é estratégica, uma vez que permite visualizar toda a região da área de proteção; bem como todas as possibilidades de trilhas pelo entorno. Talvez a vista mais marcante da região é aquela que engloba o Pico do Itambé e a Serra da Bicha, localizados à Nordeste do Pico do Raio. Ambas formações são referências do Sertão Mineiro desde a época dos diamantes.

Distâncias Aproximadas


Cidade referência: Belo Horizonte

BH x Serro Via BR 259: 325 km, somente asfalto
BR x Serro Via MG 10: 230 km, sendo 25 km em estrada de terra
Serro x Milho Verde: 21 km
Serro x Capivari: 25 km, sendo 10 km em estrada de terra

Como Chegar e voltar - De ônibus


Cidade referência: Belo Horizonte

Viação Serro até Serro → Viação Transfácil até Milho Verde e Capivari
►O ônibus que circula entre Serro-Milho Verde e Serro-Capivari apresenta frequências e horários escassos.

Como chegar e voltar - De carro


Cidade referência: Belo Horizonte

Opção 1: Rodovia MG 10, passando pela Serra do Cipó, Conceição do Mato Dentro e Serro.
► Apesar de mais curta, o inconveniente desta rota é o trecho de aproximadamente 30 km em estrada de terra entre a Mina da Anglo American-Conceição do Mato Dentro e Serro; além do acesso ou retorno de Capivari.

Opção 2: BR's 040, 135 e 259, passando por Curvelo, Gouveia, Datas, Serro, Milho Verde.
► Apesar de mais longa, a vantagem é seguir por estrada asfaltada e só enfrentar estrada de terra no acesso ou retorno de Capivari.

Considerações Finais


► Áreas Particulares: Apesar de quase a totalidade da rota estar dentro do Monumento Natural da Várzea do Lajeado e Serra do Raio, em todo o trecho desse Trekking as trilhas cortam áreas particulares; estando sujeitas às regras locais ou do IEF. Normalmente os nativos não fazem objeções aos caminhantes: são sempre solícitos, compreensivos e educados. Já moradores não nativos em especial nos arredores de Capivari são mais arredios e não apreciam caminhantes nas suas terras. Apesar da presença de muitos visitantes, os moradores locais mantém seus costumes, em especial aqueles mais idosos. Por isso, a visitação à região e a realização do Trekking requer discrição e respeito por parte de praticantes. Proibido fazer fogueiras por todo o trecho. Traga sempre todo o seu lixo de volta.

► Trilhas e Trajeto: Com aproximadamente 19 km de extensão, o trekking realizado consiste na quase totalidade por trilhas. O trecho inicial pela Várzea do Lajeado é completamente plano. Já a região da Serra do Raio consiste em aclives e declives, alguns deles bastante íngremes. As trilhas são antigas, irregulares e em especial na serra é bastante discreta. Já o trecho final para Capivari é plano e segue margeando pela esquerda o Ribeirão Capivari. Sem dúvidas a subida, cruzada e descida da Serra do Raio é o trecho mais interessante de todo esse trekking.

► Logística de Acesso: Não é difícil, pois só há um trecho de estrada de terra no acesso ou retorno de Capivari; que normalmente se apresenta em boas condições. Todos os demais trechos são asfaltados. Ponto de início e final não são tão distantes; e se dão em arraial (Capivari) e no distrito (Milho Verde). Para quem utiliza transporte público há ônibus tanto para o início; quanto para o final. Horários e frequências são escassos, mas isto é questão de planejamento.

► Camping: Não há camping estruturado pela rota. Eventuais pernoites serão no estilo natural.

► Água: Há fontes de água pela rota; porém em época de seca muitas delas desaparecem. Em anos de seca prolongada, o próprio córrego do Lajeado costuma apresentar apenas um fio d'água. Mas mesmo nessas condições costuma-se encontrar água nas proximidades do casebre antes da subida da Serra do Raio; bem como após a descida, na região da Casa do Seu Zé; além é claro do Ribeirão Capivari, que é margeado no trecho final.

► Exposição ao Sol: intensa; há pouca sombra pelo trajeto.

► Época de realização: o ano todo, desde que estude e avalie as condições do tempo; já que se vai cruzar riachos em alguns pontos. No período das águas haverá maior oferta pela rota; inclusive cachoeiras estarão mais cheias. Já no período da seca as cachoeiras apresentam sempre baixo volume de água; e as fontes pelo trajeto escasseiam.

► Duração e Sentido para realização: É uma travessia que pode ser realizada em apenas 1 dia. Nós fizemos em dois porque pretendíamos curtir um pouco mais o Córrego do Capivari. Pode ser realizado em ambos sentidos; com aclive e declive similares. Uma opção para compensar a distância de eventual viagem é combinar esta rota com alguma outra na região, como a Trilha dos Tropeiros; ou o Circuito pelas Cachoeiras de Capivari; ou mesmo pela Travessia do Pico do Itambé.

► Segurança: Todo o trajeto realizado é relativamente próximo às localidades de Capivari e Milho Verde. Como é uma rota com menos de 20 km de distância, eventuais escapes não serão problemas. Há sinal de telefonia móvel em quase todos os pontos da rota.

► Atenção: Ambientes naturais abrigam insetos e animais selvagens ou peçonhentos. Isto é natural e normal. Ao manusear suas roupas e equipamentos verifique com atenção e rigor se não há presença desses animais ou insetos peçonhentos; evitando acidentes. Use repelentes contra carrapatos. Também fique atento quanto a presença de animais selvagens de grande porte e evite assustá-los.

► Cash: leve dinheiro trocado e em espécie. Pequenas localidades não aceitam cartões ou cheques.

► Carta Topográfica: Rio Vermelho


► Pratique a atividade aplicando os Princípios de Mínimo Impacto

Bons ventos!

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